2010-03-20

O poema original


Original é o poeta
que se origina a si mesmo
que numa sílaba é seta
noutra pasmo ou cataclismo
o que se atira ao poema
como se fosse ao abismo
e faz um filho às palavras
na cama do romantismo.

Original é o poeta
Capaz de escrever em sismo.

Original é o poeta
de origem clara e comum
que sendo de toda a parte
não é de lugar algum.
O que gera a própria arte
na força de ser só um
por todos a quem a sorte
faz devorar em jejum.

Original é o poeta
que de todos fôr nenhum.

Original é o poeta
expulso do paraíso
por saber compreender
o que é o choro e o riso;
aquele que desce à rua
bebe copos quebra nozes
e ferra em quem tem juízo
versos brancos e ferozes.

Original é o poeta
que é gato com sete vozes.

Original é o poeta
que chega ao despudor
de escrever todos os dias
como se fizesse amor.
Esse que despe a poesia
como se fosse mulher
e nela emprenha a alegria
de ser um homem qualquer.

José Carlos Ary dos Santos

19 de Junho de 2010

Fausto Bordalo Dias ao vivo no CCB.

2010-03-16

Carta


Tens-me pendurada na tua vontade e acho que nem sabes. Brincas, pões e dispões e depois esqueces. Não creio que faças por mal, acho que no fundo nem me vês. Falas-me e respondes-me, lidas comigo educadamente, como a delicadeza que é constante em ti te exige. Mas no fundo não me vês. Sou, afinal, mais um cromo na caderneta, essa onde guardas as pessoas que passam pela tua vida. Desenvolvemos esta amizade competente que, parece-me sempre, vai-se construindo por uma quase obrigação em corresponder, mas tenho a sensação de que a vontade, aquela que devia ser o motor de uma verdadeira amizade, fica sempre esquecida. As palavras bonitas que são rotina em ti não significam já quase nada e transformam-se em fumo assim que saem da tua boca. E a poesia é agora uma construção plastificada que já não quer dizer nada. Porque as palavras não são consistentes com os olhos e com as mãos, esses são apenas vazios e desprendidos.
Queria perguntar-te porque continuas aqui, não estando aqui. Porque estás sempre aqui e nunca estás. Queria perguntar-te porque insistes em adubar uma amizade que não te interessa, não te entusiasma e não te satisfaz. Queria mesmo perguntar-te o porquê de toda essa gentileza construída que só desgasta o pouco de natural que ainda existe em nós.
Eu, deste lado, continuo presa por um fio a um sentimento que é só meu e que tu, por ignorância ou capricho, insistes em manter em lume brando, para que nunca arrefeça, mas que também nunca ganhe uma chama verdadeira. E o que me dói todos os dias é que és para mim muito mais do que eu sou para ti. E não vês.

A minha terra, por estes dias

A minha terra é verde. É sempre bonita, a minha terra, mas por estes dias de sol é ainda mais bonita. É como um sonho a cores, muito vivo. É toda verde, muito verde, muito viva. E muito azul, do céu. O céu é imenso, por cima das planícies imensas. E as planícies são imensamente verdes. E a minha terra é verde e azul e castanha, dos troncos dos sobreiros e das azinheiras. É de um castanho definido e marcado. Todas as cores da minha terra são, por estes dias, definidas e marcadas, porque a minha terra é assim: definida e marcada. A minha terra é como os sobreiros, tem as raízes muito fundas e fortes, sobrevive com a mesma verticalidade e dignidade às tempestades e ao sol mais exigente. E mantém-se assim, sempre firme, perante as condições mais agrestes. A minha terra é digna e vertical como os sobreiros e durante o ano só o que muda nela são as cores. Nestes dias a minha terra é também amarela, daquele sol que só é assim tão sol na minha terra. Em nenhuma outra terra o sol brilha assim, disso eu sei. Aquela luz afinal não é do sol, é da minha terra e o sol só aquece assim naquele sítio.
Eu passo ao ritmo do autocarro e a minha terra passa-me pelos olhos como esse tal sonho colorido. E aquelas planícies, aquelas colinas, aquele verde de erva fresca, aquele castanho de sobreiros, aquele azul de céu imenso é o sítio mais bonito do mundo, enquanto eu passo. Ao fundo, a minha terra é também branca, muito branca, das paredes caiadas que reflectem o sol, que só brilha assim na minha terra. E mais nenhuma terra é tão branca, tão azul, tão amarela, tão verde, tão castanha como a minha, porque a minha terra é a mais bonita de todas.

2010-03-15

To Give - Silence 4


You're asking again I told you before
The beautiful smile hides the troubled soul
Sad faces influence so easily
I already have enough of that inside of me

So funny you're still around after all these years
Ran away so many times, always ended up here
Could not ask for a thing from you
All you gave me I afforded to loose

You see...

It's all too sad for me...
It's too hard for me... to believe

It's too painful for me
It's so hard for me... to give

Too scared to jump, too dumb to fly
What side is stronger on this double-faced mind?
I make lies all day to keep the pain away
God knows my sins are already too big to pay

Even the tears I forget the taste
Maybe I should try to lick them off your face
And though I do try the best that I can
You had to be me to understand

That

It's all too sad for me...
It's too hard for me... to believe

It's too painful for me
It's so hard for me... to give

Smile On
Hang On

Arctic Monkeys - Old Yellow Bricks


Rota de colisãO

Lá, entre o Sol e o Si